As sondagens influenciam?

Os inquéritos pré-eleitorais têm apontado para pequenas diferenças entre PS e a direita.

8 de outubro, 2018
Classificadas como estudos de opinião, as sondagens tendem a ser estudos que, afinal, influenciam, elas próprias, a opinião e o comportamento dos eleitores?
Como João Soares e Pedro Santana Lopes em 2001 para a Câmara de Lisboa (o socialista aparecia à frente nas sondagens e acabou por perder), ou Rui Rio quando ganhou a Câmara do Porto em 2001 (os estudos não lhe davam a vitória), ou ainda Rui Moreira que conquistou a mesma autarquia com 40% quando as sondagens lhe davam cerca de 26%. E também nas europeias de 2009, quando a maioria das empresas de sondagens colocava, apenas uma semana antes das eleições, o PS a ganhar, e foi o PSD quem acabou por ser o vencedor na noite de 7 de Junho.

Até agora, ainda não houve qualquer caso em legislativas portuguesas. O que falhou – se é que falhou alguma coisa – naqueles episódios esporádicos? Arriscamo-nos a que aconteça em Outubro? É difícil saber porque não há estudos pós-eleitorais que ajudem a explicar a mudança do sentido de voto. Os responsáveis pelos três centros de sondagens que trabalham com a RTP (CESOP-UCP), SIC (Eurosondagem) e TVI (Intercampus) são unânimes na interpretação: os resultados das sondagens pré-eleitorais influenciam a ida às urnas e a opção de voto de parte do eleitorado.

Onde é que o voto muda mais? Nas zonas urbanas do litoral. Dos cerca de 5,5 milhões de eleitores que habitualmente vão às urnas nas legislativas, são 500 mil os que ditam o resultado, os que decidem quem é poder.

As empresas fazem questão de dividir as sondagens em pré-eleitorais (as que se fazem antes do dia das eleições) e as chamadas sondagens à boca da urna (realizadas no dia, à porta de locais de voto), que têm a natureza de previsões. As primeiras são tanto mais falíveis quanto mais distantes estiverem do dia das eleições. Nas segundas, nas palavras do dono da Eurosondagem, Portugal consegue os melhores resultados da Europa, exemplificando com os apenas 0,6 pontos de erro médio, nas legislativas de 2011, das três empresas que trabalham para os canais de sinal aberto.

Os partidos também encomendam sondagens, bem mais exaustivas que as dos media, para prepararem a campanha. Há sondagens qualitativas sobre o que os eleitores esperam dos partidos e dos candidatos, por exemplo, e quantitativas sobre intenções de voto. Há também estudos variados, incluindo em grupos restritos de discussão, sobre o carácter dos candidatos, as suas propostas e promessas, a sua postura na campanha. Mas sobre toda esta preparação de bastidores os partidos não gostam de falar.

Tendo ou não os partidos como clientes, é certo que na altura de definir listas de candidatos há contactos informais entre responsáveis dos partidos e das empresas de sondagens. Há quem queira saber se vale a pena apostar num nome em determinado distrito ou qual o distrito mais fiável por onde candidatar alguém que se quer mesmo eleger. Ou ainda como distribuir a propaganda pelos distritos onde a luta pela eleição se adivinha mais difícil, admite um responsável político. Outro diz que as sondagens da comunicação social servem apenas para aferir se os resultados e tendências globais estão em linha com as que os partidos encomendam.

Os números básicos de umas legislativas são o 230 (deputados) e o 22 (círculos – 18 distritos no continente, duas regiões autónomas, o círculo da Europa e o de fora da Europa). Mas há outros ainda mais importantes para as contas de cada partido: a percentagem mínima de votação que é preciso obter em cada círculo para se eleger um deputado.

As contas são que em Lisboa bastam 1,8%, no Porto a fasquia sobe para 2,1%, seguem-se Braga (4,4%), Setúbal (4,8%), Aveiro (5,2%), Leiria e Santarém (8,2%), Faro, Viseu e Coimbra (9,1%). Nos restantes círculos o esforço é bem maior.